Tuesday, February 13, 2007

Trópico

- A raiva me consome.
- Não vai adiantar, ela não vai acabar mesmo que...
- Não quero nem saber. Só vejo um fim pra essa ceninha que ele fez.
- Só vai trazer complicações.
- Você não consegue entender? Eu já estou a caminho do que quero.
- Pelo menos pare um pouco. Respire. Beba um copo d'água. Sou eu que estou pedindo.
- Não peça.
- Eu imploro!
- Perca seu tempo como quiser.
- Pelo amor de Deus, não faça isso. Foram três anos desde a última e você viu no que deu.
- Não me importo.
- Não foi assim que você se tornou...
- Olhe aqui, não me interessa o que você acha, o que ele acha ou o que alguém pode achar. Sou digno o suficiente pra assumir o que estou fazendo e respondo totalmente pelos meus atos, entendeu? Meus atos. Meus.
- ...
- Eu simplesmente não aceito mais essa merda toda. Ponto.

Sunday, December 17, 2006

Perguntas a se fazer para Deus quando morrer - Parte II

Empolgado com as indagações do Membrana Seletiva no possível encontro com o rapaz, ou com a moça... bem, a entidade, resolvi adicionar mais algumas.

Primeira, alguém já usou espontaneamente a expressão "em apuros"?
Esta aí uma coisa que eu gostaria que Deus respondesse, se alguma vez na vida alguém usou a expressão ou a bendita só existe mesmo na dublagem dos Looney Tunes ou naquele seriado de Batman e Robin antigão, com Adam West ("Estamos em apuros Robin, precisamos de reforços. 'Kapow'").
Já imaginou, você numa situação complicada e então olha para o amigo ao lado e manda: "meu Deus, estamos em apuros!"... tsc, tsc... impossível.

E outra que talvez Ele saiba, Xuxa fez mesmo um pacto com o tinhoso? Ou foi Marlene Matos? Ou Marlene Matos é que era o próprio pazuzu?

Se os anjos não têm sexo, como se reproduzem? Cissiparidade?
E os querubins e serafins são anjos... gays!?

- Deus! Ó Deus!
- Diz-me, ó filho meu.
- Gostaria do privilégio de ter respondidas algumas perguntas, Senhor meu.
- Bem-aventurados são os que indagam, porque eles herdarão o reino da terra.
- Sua benevolência é motivo de soberba! Então, Senhor, se tu me amas, por que não estavas na minha formatura?
- Em verdade e em verdade vos digo, ó filho meu.
- Sim, ó magnânimo.
- Estava com muitos afazeres e não pude comparecer.
- Ó Rei meu, Senhor meu, e Sua gloriosa onipresença?
- É que... é que não consegui livrar-me dos pepinos.
- Sei... e a onipotência?
- Próxima pergunta. Passo essa.
- Deus, quem te criou?
- ...
- A coisa também te deixou no escuro foi?
- ...
- Hmm... parto traumático?
- Em verdade e em verdade vos digo, ó filho meu. É que...
- Opa.
- Eu não lembro.
- Mas, e a vossa onisciência?
- É que... é que...
- Então o que é que diabos eu tô fazendo aqui?

Tuesday, November 14, 2006

Do Insuportável Sustento do Ser


Ó, vida.
Ó, concerto interminável, por mais que aperfeiçoado sempre quase perfeito, não fosse pela falta daquele um instrumento...
Mais um, apenas.
O último.
O novo.
O que não se tem.
O que não se tem ainda.
O que suprirá todas as faltas que os anteriores não foram capazes de suprir. E que você se esforça em tê-lo, mas às vezes teme um dia consegui-lo e ter que dar por completa a obra, com medo de tardiamente precisar reparar nas falhas quando não se pode mais repará-las.
E às vezes apenas quando tudo funciona, quando tudo deveria estar funcionando, é que dá-se conta de que ele estava todo fadado ao fracasso desde o início, desde que se ignorou a falta da base do que pensou-se ser a pedra fundamental: o público, afinal não é uma falta que faz falta, mas alguém que irá apontá-la e lhe dizer que você está errado.

... Daí chegou Eva.

Arthur, o Hoax

Monday, October 16, 2006

Música sim, pessoas não

Não tem coisa pior do que relacionar uma música a alguém. Pior ainda se forem várias. O fim do mundo se forem boas músicas que serão jogadas no lixo pra você que não mais suporta ouvi-las por lembrar de alguém que não queira. Devíamos ter mais respeito pela arte. E principalmente mais respeito pela que gostamos.

Eu admito, já deixei de enviar uma música que seria perfeita para a situação e para a pessoa por ter respeito por ela, a música, e pelo o que ela era pra mim. E olhe que eu gostava muito dela, da pessoa. Na verdade, foi mais de uma vez. Depois das oportunidades fiquei com remorso, achando que o que deveria ter feito era mesmo homenagear a amada e que a arte que se danesse e viva às pessoas. Mas um futuro não muito distante, mesmo, me confirmou que havia agido certo, de forma correta, mais que abalizada. Todas as vezes.

A música, nessa forma que costumamos ouvir e "homenagear", a que "não se perde na execução", a gravada, a que quando ouvimos sempre é do mesmo jeito, não nos decepciona. As pessoas sim.

O máximo que pode acontecer é enjoar dela um pouquinho, mas logo depois se morre de saudades e corre pra ouvi-la de novo, para se reconfortar, receber uma carícia dela ou uma paulada se preferir.

Com a música a gente pode acreditar, por fé, que ela vai te retribuir. Vai te fornecer as mais diversas emoções que você puder sentir, basta só um pouco de atenção que ela é prestativa, não esquece de você e a trata da forma que você gostaria de ser tratado.

Com as pessoas, quando você começa a confiar de novo, recomeça a achar que vale a pena se entregar realmente pro outro, quando você começa a minar com a idéia de que o mundo seria, como foi exageradamente dito uma vez, "triste, frio e cruel", que o ser humano, com o seu super-poder que é o sentimento pelo outro, vale sim o mundo que habita... aí então... põe tudo a perder. Já era.

A música não. A arte não. E relacionar algo dessa natureza a alguém é torná-la odiosamente imperfeita, fazendo-a herdar toda a sua pobreza, desequilíbrio e características impuras.

Cada vez mais entendo porque a sociedade atual é tão superficial em suas relações com o outro e principalmente com seus companheiros(as). Estão cansados de verem os outros se agredindo silenciosamente e de si próprios machucarem, tentarem se reerguer e tombarem de novo. Melhor mesmo seria deixar o sentimento egocêntrico do nosso tempo tomar lugar e nos servir de proteção.

Monday, October 09, 2006

"Quem não se comunica, se trumbica".

Sunday, October 08, 2006

Tem coisas que só um shopping faz por você - Parte 2

Tomando a liberdade de continuar com o tema do "Tem coisas..." aberto no Membrana Seletiva, venho deixar minha contribuição no que um shopping, especificamente um mais popular, pode fazer por você.

Digo isso porque o shopping onde trabalho, por ser localizado no centro, tem esse apelo "mais popular" e facilmente podemos encontrar uma gama de figuras advindas dos mais diversos graus de instrução e dos mais diversos lugares da nossa cidade e vizinhas. Pessoas que muitas vezes não estão acostumadas com esse tipo de ambiente e que se maravilham com o mundo novo que experimentam alí.
O que particularmente acho fascinante, não o ambiente, mas a experiência que vivenciam. Mais ainda por poder perceber e constantemente participar desse mundo novo que por vezes elas recebem com os olhos brilhando. Experiência essa que pra nós pode parecer simples e até desprezada por alguns, porém não faz parte do cotidiano deles.


Estava eu no banheiro tentando enxugar as mãos naquela "turbina" que supostamente deveria servir para isso e percebi um cara ao meu lado tentando fechar a torneira. A dita cuja é daquelas que pressiona para abrir e que pouco depois vai fechando sozinha. Mas ele continuava lá tentando fechar... girando, girando... depois mais forte. Trocando de mão! Virando de costas!

- Essa danada é teimosa - falando baixinho pra si mesmo, esticando toda a camisa pra tentar fechar - hmpf... vamo minha fia. Vamo!

Calou-se. Havia percebido que eu estava olhando. Continuou a tentar. Fiz menção que ia dizer algo e ele então desconfiado e se rindo:

- Como é que fecha essa danada?
- Não preci...
- Hein?
- Não precisa não.
- Precisa não? - abruptamente, mais desconfiado ainda. E se rindo timidamente.
- Não, não. Pode deixar que ela já vai fechar, olhaí ó...
- Vixe! Negocin escroto - sorriso de orelha à orelha e talvez um pouco envergonhado.
- Legal né?
- Éééé. Esse negóci aí é pra secá as mãos?
- É...
- Hein?
- Siiim.
- Aaahhh, legal também né? Esses negóci de hoje em dia... num é?
- E num é! - Dei a vez pra fazê-lo conhecer o secador - É só pôr as mãos e...
- Hein?
- É só pôr as mãos...
- Como faz pra ligar?
- É só pôr as mãos embaixo que el...
- Não tem botão?
- Não pô, ó só, é só colocar as mãos embaixo que ele liga. Tá vendo? Depois que você tirar ele desliga só. Mas coloca perto.
- Aaahhh!

Todo desconfiado foi lentamente levantando as mãos de forma desengonçada. Quando viu que funcionou abriu um outro sorriso e olhou pra mim agradecido, acenando com a cabeça.

- Brigado viss!

Esse tempo todo eu tentando não rir, sem sucesso em alguns momentos é verdade, mas ao mesmo tempo achando fantástico, tanto em ver seu estranhamento e satisfação como também com a simplicidade e a espontaneidade dele.
Lembrei-me de quando criança, descobrindo o vidro e as travas elétricas do carro. =)

Jerônimo Caixapreta

Wednesday, September 27, 2006

Nova era, nova vida. Ou seria nova pod era, nova pod vida.

É povo... e a vida continua, sendo que, especialmente desta vez, melhor.

Há um bom tempo que somos abençoados com a siglazinha mágica "mp3". Com aquele arquivo relativamente pequeno em conjunto, claro, com a também abençoada internet, mudamos a maneira de ter acesso à música.
De repente podíamos ter discografias inteiras com uma enorme economia financeira (obrigado pirataria!) e de quarto (ou você acha que ter 2000 cds não ocupa espaço?). Tudo estava alí naquele cubo tediosamente bege que muitas vezes traz mais trabalho que economia de tempo - aquela conversa de que tecnologia te dá mais "tempo ocioso" era balela, mas aí é outra história.

Novas descobertas sonoras nem precisavam mais de buscas em sebos empoeirados (me perdoem os tradicionalistas místicos) ou rios de dinheiro num álbum importado. Nem sequer aquele padrinho musical que os privilegiados podiam ouvir emprestado "In a glass house" do Gentle Giant ou afro-cuban jazz.
De uma hora pra outra o acesso democrático a música se instaurou. Ou pelo menos quase isso.


Tudo muito bonito. Depois do download seleciono os arquivos para a tracklist "and hit the play".

Hmm... mas a escolha das músicas depende de mim. Não quero a obrigação de escolher.

Seleciono todas as pastas de áudio e pressiono o shuffle.

Certo. Mas o universo permanece finito. Quero algo que vá além.

Além das indicações dos amigos posso buscar nesses blogs da vida novas canções, novos álbuns, novos artistas, novos velhos artistas.

Não adianta, é sempre tendencioso, e de certa forma sem surpresas e dinâmica.

Rádio? Sem chance. Não se consegue ouvir música de boa qualidade nele, pelo menos por aqui.


Todo esse blá-blá-blá para partilhar minha satisfação e celebrar tardiamente a resposta-de-todos-os-meus-problemas: Podcast.

Não surgiu de Steve Jobs, porém com parte do mundo virando uma maçã e a outra desejando ser uma (favor da dupla iTunes/iPod), o Podcasting está consolidado.

Não intento fazer um compêndio, mas o dito cujo é um programa de rádio que pode ser ouvido a qualquer momento e em qualquer lugar (que toque o arquivo de áudio, geralmente adivinha qual).

E tem mais, a "transmissão aos pods" pode ser feita por qualquer um com o mínimo de equipamento e vontade, profissional ou não, e daí meu amigo... daí abrem-se portas para o aparecimento do conteúdo de qualidade.

Hmm... agora sim.

Vida nova, vida boa é carregar meus podcasts favoritos no celular e ter prazer durante o diiia inteiro.

Jerônimo Caixapreta


p.s.: Um bom item pra também adicionar na lista do domingo. ;)

Permitam-me indicar um trio deles:
http://nightpassage.blogspot.com/ :: Ao contrário do rock, o jazz não morreu. Está aqui a prova.
http://gwerneck.libsyn.com/ :: O cara é bom, muito bom.
http://www.badtrip.com.br/batata/ :: Tem umas coisas interessantes, de preferência ouça os mais antigos.
http://nightripping.blogspot.com/ :: Pelo visto era fogo de palha. Mas só tem coisas boas de blues.