Monday, October 16, 2006

Música sim, pessoas não

Não tem coisa pior do que relacionar uma música a alguém. Pior ainda se forem várias. O fim do mundo se forem boas músicas que serão jogadas no lixo pra você que não mais suporta ouvi-las por lembrar de alguém que não queira. Devíamos ter mais respeito pela arte. E principalmente mais respeito pela que gostamos.

Eu admito, já deixei de enviar uma música que seria perfeita para a situação e para a pessoa por ter respeito por ela, a música, e pelo o que ela era pra mim. E olhe que eu gostava muito dela, da pessoa. Na verdade, foi mais de uma vez. Depois das oportunidades fiquei com remorso, achando que o que deveria ter feito era mesmo homenagear a amada e que a arte que se danesse e viva às pessoas. Mas um futuro não muito distante, mesmo, me confirmou que havia agido certo, de forma correta, mais que abalizada. Todas as vezes.

A música, nessa forma que costumamos ouvir e "homenagear", a que "não se perde na execução", a gravada, a que quando ouvimos sempre é do mesmo jeito, não nos decepciona. As pessoas sim.

O máximo que pode acontecer é enjoar dela um pouquinho, mas logo depois se morre de saudades e corre pra ouvi-la de novo, para se reconfortar, receber uma carícia dela ou uma paulada se preferir.

Com a música a gente pode acreditar, por fé, que ela vai te retribuir. Vai te fornecer as mais diversas emoções que você puder sentir, basta só um pouco de atenção que ela é prestativa, não esquece de você e a trata da forma que você gostaria de ser tratado.

Com as pessoas, quando você começa a confiar de novo, recomeça a achar que vale a pena se entregar realmente pro outro, quando você começa a minar com a idéia de que o mundo seria, como foi exageradamente dito uma vez, "triste, frio e cruel", que o ser humano, com o seu super-poder que é o sentimento pelo outro, vale sim o mundo que habita... aí então... põe tudo a perder. Já era.

A música não. A arte não. E relacionar algo dessa natureza a alguém é torná-la odiosamente imperfeita, fazendo-a herdar toda a sua pobreza, desequilíbrio e características impuras.

Cada vez mais entendo porque a sociedade atual é tão superficial em suas relações com o outro e principalmente com seus companheiros(as). Estão cansados de verem os outros se agredindo silenciosamente e de si próprios machucarem, tentarem se reerguer e tombarem de novo. Melhor mesmo seria deixar o sentimento egocêntrico do nosso tempo tomar lugar e nos servir de proteção.

14 Comments:

At 10:56 PM, Blogger Muccini said...

Bem colocado. Não podemos estragá-las com o que não vale a pena. O que não vale a pena e o que não pode ser estragado fica para a interpretação pessoal... Hehehe!

 
At 12:57 AM, Blogger Ivo Brunet said...

Hehehehe... e é aí onde mora o perigo.

 
At 11:31 PM, Blogger Guilherme said...

O cheat é associar músicas a momentos, não a pessoas. =)

 
At 12:14 PM, Blogger Fernanda Eggers said...

Associar música a momentos é uma boa idéia... Mas dependendo da situação, pode machucar também.
E quanto às pessoas... Ninguém é perfeito, oras! Resta saber o quanto você quer se entregar. É justamente essa a medida do quanto vai ser bom enquanto houver algo e o quanto vai doer no final. E cabe a cada um saber de sua própria capacidade de recuperação.

 
At 7:05 PM, Blogger Fernanda Eggers said...

Ivo:
http://lafiestarejane.blogspot.com/
Fazendo a propaganda... ^^
Assim você não tem o trabalho de ir procurar no meu blog.
É um site de bolsas, então talvez não tenha graça pra você, mas até onde eu saiba, todo mundo tem mãe e amigas.

 
At 9:28 PM, Anonymous Anonymous said...

=)
Mas e se usando desse "cheat" o momento envolver mais pessoas? Aí então, ao invés de relacionar a uma seriam várias para lembrar daquele momento!
E tipo, como dissolver a união do momento com as pessoas que o fazem?

Ivo
(está 3x0 para o blogger, ele não aceita mais comentários meus, vai na base do anônimo)

 
At 9:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Respondendo o comment de Fernanda...

Pois é. Também é disso que estou falando.
Cada vez mais nos entregamos menos para o final ser menos doloroso. E dessa forma, no fim, percebemos que nem sequer fomos nós mesmos.
E por mais que a capacidade de recuperação seja fenomenal, ninguem, em seu estado normal, gosta de sentir dor. É anti-natural.

 
At 9:37 PM, Anonymous Anonymous said...

Ei, vou fazer merchandising por lá também viu \o/

 
At 10:17 PM, Blogger Guilherme said...

Mas se você associa ao momento, a nostalgia vem ao momento, que esperemos que seja bom - não aos escrotos que partiparam dele. Aí você não estraga a música (e ainda lembra que os escrotos foram legais algum dia =).

 
At 11:39 PM, Blogger Ivo Brunet said...

Chuchu-beleza!

 
At 2:46 PM, Blogger Fernanda Eggers said...

Pobres crianças descobrindo o mundo!!! =D

 
At 3:40 PM, Blogger Ivo Brunet said...

Pensei a mesma coisa!
Inclusive vai ser parte da "descrição" do blog novo. Na verdade o comentário do blog novo, esse negócio de descrição delimita muito. ;)

 
At 2:06 PM, Blogger Fernanda Eggers said...

Blog novo?

 
At 3:35 PM, Blogger Ivo Brunet said...

Sim! A intenção é deixar esse aqui para coisas metidas a engraçadinhas. E fazer um apenas autoral para dominar o mundo. ;)

 

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